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VESTÍGIOS

Voltamos aos Inhamuns e logo cedo decidimos sair por algumas estradas de terra entre os distritos de Marrecas e Marruás. Ouvindo nossa conversa sobre casas abandonadas, minha mãe fala “Na Maravilha tem muita casa velha”. Decidimos ir até lá e tinha mesmo.

Logo que chegamos ao pequeno povoado, encontramos uma bem grande sem portas e sem telhado. Paramos o carro e caminhamos em direção aos restos da construção. Dentro já não tinha paredes. Um grande vão vazio. Weaver pegou no carro a pintura que tinha feito no dia anterior e escolhemos um local para ela na fachada da casa. Em frente tinha um pé de limão. Foi sob sua sombra e desviando dos espinhos que fiz as fotografias.

De longe, vi Weaver caminhando dentro da casa e fazendo uns gestos com as mãos como se tivesse esboçando um desenho. No caminho de volta ele comentou que tinha uma grande mancha na parede que parecia a metade de uma cabeça.
Maravilha, distrito de Marrecas, Tauá-CE (20/12/2019)

Weaver pintou três quadros durante os dias que ficamos na Missão. As três imagens, dispostas lado a lado, se complementam. Na viagem de volta a Fortaleza esses trabalhos foram deixados em diferentes casas abandonadas, no trecho entre Tauá e Boa Viagem.
Boa viagem-CE (04/11/2021)

Na beira da estrada, em Umari do Córrego, fica a lanchonete da Dona Nenén. Cedo da madrugada, ela e o seu companheiro, Armando, acordam para ajeitar o estabelecimento e deixar tudo pronto para receber os primeiros viajantes do dia. Lá são somente os dois. Citam com orgulho, a filha formada, que não mora mais ali.

Ofereço para eles escolherem, caso gostem, um dos dois quadros que levo. Dona Nenén decide e define também o local na parede. Na despedida, solicitam que sempre que passarmos pela região, façamos uma visita. É o que faremos, com todo o prazer.
Umari do Córrego, distrito de Milton Belo, Aracoiaba-CE (18/09/2022)

Em Mombaça, encontramos a fachada de um casarão já sem a porta.
A porta leva para o interior de uma casa que não existe.
Adentrando, nos deparamos com uma ribanceira.
Parece cena de um sonho, mas o odor do lixo jogado no interior nos traz para a realidade.
Fixo dois trabalhos numa grande parede lateral.
E torna-se impossível, para mim, pensar nestes trabalhos em outro lugar senão naquele.
Mombaça-CE (13/11/2020)


Nas vezes anteriores que a gente retornou para ver se os quadros ainda estavam onde os deixamos, eles tinham sumido. Desta vez, porém, quase seis meses depois, a obra continuava lá. Foi a primeira vez que isso aconteceu em mais de 3 anos fazendo essa ação. O trabalho perdeu a cor original, tornou-se mais integrado ao ambiente e passou a sumir junto com aquela casa.
Santa Cruz do Banabuiú, distrito de Pedra Branca-CE (03/11/2016)

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